Café Vorga

Doer...

 

Photo by MARIOLA GROBELSKA on Unsplash

 

Às vezes a vida é um desencontro, um faltar um pouco, quase lá. Não que não tenha os seus tempos felizes, mas quando ainda podiam ser mais, há qualquer coisa que nos foge, se escapa. Um sonhador é alguém que sempre encontra os desencontros. Um ingénuo que não percebe que o mundo não é dos que se dão, mas dos que tomam para si. Por isso, para os sonhadores a vida (às vezes) dói...

 

Quis alcançar o mundo todo;

Uma quimera, um sonho, devaneio!

E magoou-me nesta ingenuidade,

(ser ainda um tolo!)

Do todo, menos de meio,

Na busca da felicidade!

 

Sou assim, esta espécie singular,

Que acha que por se apaixonar,

Fica tudo mais fácil assim!

Mas é miragem, que o sei por mim.

Um bobo fútil,

Na margem do inútil!

 

Que quero eu, se não miragens,

Que não coincidem nestas paragens,

Por onde me arrasto.

Neste rasto

De ser, viver,

Doer…

 

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NADA



Nada como uma catástrofe para parares para olhar dentro de ti, o mais fundo que sejas capaz. E olhas, sem encontrar horizonte, sem te deteres em nada. À imagem do que é tudo, em fumo e espelhos, o grande mágico faz com que desapareças. Desaparece tudo, até tu, que nunca foste outra coisa se não nada...



Ah nada, mas mesmo nada,
É a vida em retrospetiva.
Já tudo me enfada,
Mesmo que viva.
Deixem que o rochedo,
Se transforme em pó!
Que o meu medo,
Seja eu, apenas só.
Estou ficando vazio…
Água que se esgota no meu rio,
Nuvem pesada que não chove.
O que é que me move?
Um eco, um oco, uma loucura;
Que arco-íris será a minha cura?
Tu que não tens dores,
Quais são as tuas cores?
E estou endoidecendo,
Me perdendo,
Em lugar nenhum!
Sou apenas um,
Solitário perfeito!
De areia feito,
Duna, deserto seco,
Onde não peco!
Que fim é este?
Será a peste?
O que nos tragará,
No fim do mundo?

Ah dantes ainda tinha os sonhos,
Os felizes e os medonhos!
Agora não tenho nada,
Esperança abandonada.
Ecos, rumores,
Coisas vagas, amores…
E sou uma folha vadiando,
No meio do ar rodopiando,
Até cair!
E é ir,
Até ao fim,
Que resta para mim?
Só isso, esse nada sempre vazio,
Tão vazio, como um espaço sem ar!
Um tecido sem fio,
Que só serve para desnudar!
Deixa-me aqui na margem!
Nenhuma viagem,
Nenhum caminho para seguir,
Nem prisão de onde fugir!
Que sem saber,
A vida é para morrer.
Desaparecer…
E hei-de ir,
Sem ter chegado.
Apagado!
Nesse tempo que é sem fim,
Há-de apanhar-te a ti, e a mim.
Não faz sentido, ser tão nada assim.
Nem uma promessa, um fogacho,
Lugar onde não me acho,
Onde apago.
Amargo,
Até me esgotar,
Nada restar!
Onde toda a memória doce,
Se fosse…
Ficasse só este absinto,
E só a dor fosse o que sinto.
Macabra tortura,
De doer com a lembrança!
Uma coisa que dura,
E em não matando, é matança!
Não consigo estar mais macabro.
Esta porta fechada abro,
E é vazio!
Tudo tão vazio,
Sem sentido.
Sorrio!
Doentio.
Ido,
Sem saudade,
Que tudo é vaidade!


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Pássaro cansado

Oh as rotinas vazias dos dias iguais! O mundo que persiste no seu caminho inescusável, na sua senda suicida! Por quanto mais dias de um voo feito de urgência e não do prazer de voar? Confessa que cansa e estás cansado. Mesmo que ainda sobre a esperança...



Cansado, batendo a asa,
Regressa o pássaro a casa!
Pousando no galho conhecido,
Por este dia, dá-se por vencido.
E o sol declina no horizonte em fogo,
Pássaro só, aqui ainda e mais logo...

Na noite não se trina.
Vida que se amofina!
Existir é só cansaço;
Ser apanhado nalgum laço.
E se restar alguma sorte,
Ser rápida a morte!


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Mágoa II

Quem nunca ficou preso nuns olhos da cor do arco-íris que prometiam tesouro no fim? Mas os olhos, quiseram partir, ver outras coisas que não nós. E toda a gente sabe que só há arco-íris quando chove... E às vezes chove e não é para encontrar tesouro no fim do arco-íris, mas apenas para ficar na lama.

Os meus olhos em água,
São o sinal desta mágoa.
Semente daninha,
Que ficou minha.
Foi crescendo,
E eu vivendo,
A faço crescer!

Quem me dera te esquecer,
Apaziguar este vazio em mim!
Rio seco a que não consigo por fim,
Por mais que chova, eu feito nuvem,
É um negro de doer, por ti,
E por mim também...
(Cada um sabe de si!)
Eu sei que estou só,
Na secura, apenas sou pó.
E quando recordo a nossa chama,
Me transformo em lama...


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Poema da alma vazia


A pior das coisas é envelhecer, porque mesmo que não se seja inteligente, alguma sabedoria fica da experiência. Meninos inquietos que fomos, velhos temerosos que nos tornamos e pelo meio é tudo (ou quase) um enorme desperdício que andámos a pensar que era vida e eram só ilusões. Por isso a alma, entretanto sábia, desespera. E é só a amargura que lhe sabe o seu vazio...


Sei que o tempo não volta para trás.
Isto são caprichos que a memória faz,
De persistir em ensombrar-me os dias,
Com um futuro que podia ter sido,
E não este presente e estas vias!

Há por isso na minha boca desejosa,
O sabor de um fruto que não comi.
Talvez anseios de uma vida perigosa,
De aventura que nunca vivi!

Este sabor sanguinolento,
É afinal o lábio que mordi.
Ferradela desta frustração,
De ter sido lerdo e lento,
Sem nunca consumar paixão,
Enquanto jovem e a favor do vento!

Sim, eu sei, são mágoas antigas.
Devia pensar no futuro,
Ao invés de recordar.
Velhas cantigas.
Mas sei que já não duro,
Muito mais para além,
De aqui chegar.
E já nada vem...

Talvez sejam sonhos de velho caduco!
Vôos sobre ninhos de cuco,
Que é preciso ser louco,
Não se contentar com pouco!
Sei que erro neste fado,
Vida que me passou ao lado!
E é triste, e esta tristeza,
Amargura-me em excesso;
Talvez seja só falta de sexo!

Deixei de usufruir a beleza,
De um tempo que passou.
E agora que findou,
Fica esta sensação amarga,
Que não me larga!

Oh eu sei, todos os velhos chegam aqui:
Há saudade que têm consciência de ter perdido!
Não sei agora porque te quero a ti,
Patética criatura que tenho sido.
É este coração doido no meu peito,
Que ainda que voar, querer acreditar,
Que o que não fiz, ainda pode ser feito!

E já não pode, que se esgota!
Taça quebrada, agora rota!
Não importa mais o que se quer,
Tudo é cinzento e negro de ver.
Louco! Oh velho louco que anseias,
Rompeste as solas, até às meias,
Mas foi só a andar!
Tudo passou...
Tudo há-de passar,
Por aqui por onde vou!
Água de rio por baixo da ponte,
Corre pró mar,
Vem da fonte,
Só pra lá chegar!

Há um peso nas pálpebras...
Restos de coisas que não são.
Não me perguntes nada,
Que estou esgotado.
É tudo frustração,
Que se transforma em raiva!
Tudo me enfada,
Tudo soa a fado.

Oh e dantes eu gritava em esperança,
Mesmo quando ela me tirava o ar,
E afundava o peito em sobressaltos!
Sempre havia alguma dança,
Um desejo de saltitar!
Porque estava confiante,
Que o futuro seria grande!

E não é, nada é como sonhei.
Nem devia estranhar...
Esta sabor de amargor.
Nada sei,
E dizem que sou inteligente!
Sinto-me doente,
Nesta dor de alma,
Que nunca consumou,
Um amor paixão,
De derreter as pedras da calçada!
Água que foi e é passada!
Tudo é nada, Tudo é nada!
Nesta angústia de alma que grita,
Está vazia e está aflita!


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