Às vezes a vida é um desencontro, um faltar um pouco, quase lá. Não que não tenha os seus tempos felizes, mas quando ainda podiam ser mais, há qualquer coisa que nos foge, se escapa. Um sonhador é alguém que sempre encontra os desencontros. Um ingénuo que não percebe que o mundo não é dos que se dão, mas dos que tomam para si. Por isso, para os sonhadores a vida (às vezes) dói...
Nada como uma catástrofe para parares para olhar dentro de ti, o mais fundo que sejas capaz. E olhas, sem encontrar horizonte, sem te deteres em nada. À imagem do que é tudo, em fumo e espelhos, o grande mágico faz com que desapareças. Desaparece tudo, até tu, que nunca foste outra coisa se não nada...
Oh as rotinas vazias dos dias iguais! O mundo que persiste no seu caminho inescusável, na sua senda suicida! Por quanto mais dias de um voo feito de urgência e não do prazer de voar? Confessa que cansa e estás cansado. Mesmo que ainda sobre a esperança...
Cansado, batendo a asa, Regressa o pássaro a casa! Pousando no galho conhecido, Por este dia, dá-se por vencido. E o sol declina no horizonte em fogo, Pássaro só, aqui ainda e mais logo...
Na noite não se trina. Vida que se amofina! Existir é só cansaço; Ser apanhado nalgum laço. E se restar alguma sorte, Ser rápida a morte!
Quem nunca ficou preso nuns olhos da cor do arco-íris que prometiam tesouro no fim? Mas os olhos, quiseram partir, ver outras coisas que não nós. E toda a gente sabe que só há arco-íris quando chove... E às vezes chove e não é para encontrar tesouro no fim do arco-íris, mas apenas para ficar na lama.
Os meus olhos em água, São o sinal desta mágoa. Semente daninha, Que ficou minha. Foi crescendo, E eu vivendo, A faço crescer!
Quem me dera te esquecer, Apaziguar este vazio em mim! Rio seco a que não consigo por fim, Por mais que chova, eu feito nuvem, É um negro de doer, por ti, E por mim também... (Cada um sabe de si!) Eu sei que estou só, Na secura, apenas sou pó. E quando recordo a nossa chama, Me transformo em lama...
A pior das coisas é envelhecer, porque mesmo que não se seja inteligente, alguma sabedoria fica da experiência. Meninos inquietos que fomos, velhos temerosos que nos tornamos e pelo meio é tudo (ou quase) um enorme desperdício que andámos a pensar que era vida e eram só ilusões. Por isso a alma, entretanto sábia, desespera. E é só a amargura que lhe sabe o seu vazio...