Poema da alma vazia


A pior das coisas é envelhecer, porque mesmo que não se seja inteligente, alguma sabedoria fica da experiência. Meninos inquietos que fomos, velhos temerosos que nos tornamos e pelo meio é tudo (ou quase) um enorme desperdício que andámos a pensar que era vida e eram só ilusões. Por isso a alma, entretanto sábia, desespera. E é só a amargura que lhe sabe o seu vazio...


Sei que o tempo não volta para trás.
Isto são caprichos que a memória faz,
De persistir em ensombrar-me os dias,
Com um futuro que podia ter sido,
E não este presente e estas vias!

Há por isso na minha boca desejosa,
O sabor de um fruto que não comi.
Talvez anseios de uma vida perigosa,
De aventura que nunca vivi!

Este sabor sanguinolento,
É afinal o lábio que mordi.
Ferradela desta frustração,
De ter sido lerdo e lento,
Sem nunca consumar paixão,
Enquanto jovem e a favor do vento!

Sim, eu sei, são mágoas antigas.
Devia pensar no futuro,
Ao invés de recordar.
Velhas cantigas.
Mas sei que já não duro,
Muito mais para além,
De aqui chegar.
E já nada vem...

Talvez sejam sonhos de velho caduco!
Vôos sobre ninhos de cuco,
Que é preciso ser louco,
Não se contentar com pouco!
Sei que erro neste fado,
Vida que me passou ao lado!
E é triste, e esta tristeza,
Amargura-me em excesso;
Talvez seja só falta de sexo!

Deixei de usufruir a beleza,
De um tempo que passou.
E agora que findou,
Fica esta sensação amarga,
Que não me larga!

Oh eu sei, todos os velhos chegam aqui:
Há saudade que têm consciência de ter perdido!
Não sei agora porque te quero a ti,
Patética criatura que tenho sido.
É este coração doido no meu peito,
Que ainda que voar, querer acreditar,
Que o que não fiz, ainda pode ser feito!

E já não pode, que se esgota!
Taça quebrada, agora rota!
Não importa mais o que se quer,
Tudo é cinzento e negro de ver.
Louco! Oh velho louco que anseias,
Rompeste as solas, até às meias,
Mas foi só a andar!
Tudo passou...
Tudo há-de passar,
Por aqui por onde vou!
Água de rio por baixo da ponte,
Corre pró mar,
Vem da fonte,
Só pra lá chegar!

Há um peso nas pálpebras...
Restos de coisas que não são.
Não me perguntes nada,
Que estou esgotado.
É tudo frustração,
Que se transforma em raiva!
Tudo me enfada,
Tudo soa a fado.

Oh e dantes eu gritava em esperança,
Mesmo quando ela me tirava o ar,
E afundava o peito em sobressaltos!
Sempre havia alguma dança,
Um desejo de saltitar!
Porque estava confiante,
Que o futuro seria grande!

E não é, nada é como sonhei.
Nem devia estranhar...
Esta sabor de amargor.
Nada sei,
E dizem que sou inteligente!
Sinto-me doente,
Nesta dor de alma,
Que nunca consumou,
Um amor paixão,
De derreter as pedras da calçada!
Água que foi e é passada!
Tudo é nada, Tudo é nada!
Nesta angústia de alma que grita,
Está vazia e está aflita!


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Artigo Poema da alma vazia publicado por mitro na data de sexta-feira, 18 de janeiro de 2019. És convidado a comentar! Já tem 0 comentário(s) Ou então volta para o início -> Poema da alma vazia
 

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