Desistir

Já tiveste alguma vez a sensação de que estás a mais? Que estás sempre a mais? E que não devias estar? E foi tão aguda a sensação que desejaste partir e mesmo assim os teus pés não se mexeram. E pediste que te deixassem. E deixaram... Deixando esse peito angustiantemente vazio.



Gostava de chorar por ela.
Mas não consigo.
Preciso de coração para chorar,
E ela arrancou-me do peito.
E deixou-o ao desabrigo,
Onde está a nevar!

Aos poucos já não bate,
Ela bateu.
Assim me mate,
O que antes em mim viveu.

Agora os meus passos,
Não precisam de nenhum caminho.
Foram sonhos, desenhos e traços,
Que me deixaram sozinho.

Podes largar-me a mão agora,
E deixar-me aqui à chuva.
O que espero, já não demora,
E não faz diferença,
A minha crença!
Ou se estou encharcado,
Parado;
Nesta maldita humidade.
A verdade,
É que desisti da felicidade…

 

O caminho da Rosa

Oh sim, eu sei! A paixão prometida em cada rosa, trocada por dezenas de espinhos. Não sei se há música para isso, mas se houver, deve ser triste como o mar na maré vazia. Que te importa a rosa, se a agarras onde os espinhos estão e apertas com força e aprendeste a gostar dessa dor, que te lembra o seu perfume? Sabes... És doido. Apenas doido. Ou então não existes. (Era melhor.)

O caminho da Rosa

Sigo com pés de Cristo,
Este caminho da rosa;
Em vermelho e dor,
Acreditando no amor.

Entre o futuro e o mal,
Apenas cristalino sal,
Que cai como orvalho,
Nas pétalas onde falho.

Cambaleio na fragrância,
Qual ébrio sem paciência.
Àlcool de paixão rubra,
Que até ao chão me curva.

Caminho com os pés do Cristo,
Sobre as roseiras inteiras.
Tornei-me nisto, desisto!
Já não acredito em nada.