Amor sem tempo

Quem nunca se sentiu agarrado pelo amor, de uma forma tão violenta, tão urgente, que senti-lo apenas doeu? Às vezes o amor é assim, toma-nos de assalto, faz crescer a paixão até que o corpo inteiro nos doa na impossibildade de satisfazer o desejo. Não vale pena maldizê-lo. Ele não tem culpa, nem nós temos. É só que às vezes o tempo não encontra a oportunidade, como a inspiração às vezes bate, quando não temos a disposição de lhe dar fluxo. Ela tem de encontrar outro que a possa acolher. Fica um sabor amargo e doce... Outras estamos cheios de sol, e lá fora está a chover...

Era um velha carcaça
Sem brilho mais que baça
Na quietude de existir
Havias tu de surgir
Para me acordar
Fazer pensar
Que amar
Ainda era possível

Não há como fugir
Devia ter adivinhado
Que não era plausível
Estava encrustado
Na minha personalidade
De besta selvagem
Não daria felicidade
Com a menina de cidade

Mas persistimos em sonhar
Com a maravilhosa viagem
Que nos leva ao amor
Paraíso que queremos alcançar
Onde só resta dor
Porquê tentar?
Mas fomos na teimosia
Dessa busca da alegria

Perseguimos ilusões ,
Coleccionei frustrações .
Velho senil, que anda à toa.
Sonhando que a vida que não foi,
Pudesse agora tornar-se boa!
A frustração corroi,
Vai-se a sensatez.
(E já nem dói...)
E a oportunidade de ser feliz,
Não volta outra vez,
Independetemente de quem quis.

(poema veio daqui)







O amor tem pressa, não sabe esperar
Quer concretizar-se num beijo
Impaciente, ardendo em desejo
Correr ao teu encontro, te abraçar

Necessidades primaveris
Vontades varonis
Que a natureza acorda
Paixão que transborda

E olho pela janela lá fora
O Sol atrasou-se, demora
E quero-te tanto neste instante
E há nuvens, estás distante...

Há um reflexo em que me revejo
Estou triste, a ânsia por um beijo
A necessidade do teu corpo no meu
E está escuro, não vejo o céu

Sei que humedeces por mim
Nessa inquietação de querer
Tu e eu num ardente festim
Mas, hoje está a chover...

O coração é pássaro preso
Latejam as fontes neste querer
Estandarte erguido e aceso
Mas, hoje está a chover...

Hoje está a chover...

(poema veio daqui)






 

NEGRUME


Em todos nós como diz a canção há lado negro. Um selvagem e brutal que às vezes nos surpreende a nós mesmos. O nosso lado animal. Confesso ter um problema. O lado negro da força que me puxa...Espelho isso em diversos poemas. Como se lida com isto?
Aceita-se e pronto? Ou encontras um sítio quente onde ficar e quais gatos, esperamos que nos acalmem com festas e acabemos ronronando?





Há um monstro que mora em mim,
E às vezes irrompe hirsuto,
Revela-se bruto assim!
É um lado escuro e tenebroso,
Que certamente não me faz orgulhoso.
Antes pelo contrário, traz receoso,
Temeroso de quando vai espilrar,
E desatar a fazer mal,
Levar-me a errar!
Chão de sal,
Onde nada pode crescer.
Verbo feito pra me arrepender.
Lado de mim maldito, irracional,
Que me lembra o meu lado animal!
Deixa que o domestique, faça serenar,
Para que nunca mais se corra o risco,
De se soltar, morder e magoar!

(veio daqui)





Dá-me as tuas fraquezas,
As tuas dúvidas e incertezas,
Os erros mais abjectos,
As tuas falhas inconfessáveis,
Os teus pecados mais secretos!

Dá-me a tua chuva intensa, pesada,
Os teus dias carregados e cinzentos.
Deixa-me espalhar a tua tristeza,
Lançá-la no ar, carregada nos ventos!

Dá-me as tuas coisas negras, doentias,
As pústulas, as feridas, as dores,
Os teus pesadelos, cheios de horrores,
Os teus arrepios, as febres frias!

Dá-me as telas loucas,
Pintadas na frustração,
Com o pincel da angústia,
A guiar-te a mão!

Serão o meu tesouro precioso,
Obras-primas do meu museu!
E quando estiver angustiado e furioso,
Quem se acalmará ao vê-las serei eu!

Prefiro andar perdido,
No meio da tua fraqueza,
Que entre a fúria dos dias;
Que lhes rouba a beleza!

Deixa-me ser teu anjo alado,
Designado pra te guardar,
Caído, para andar ao teu lado,
Para dar brilho ao teu olhar!

E será no AGORA, -- o usufruto,
Que crescerá um amor bruto,
Forte, poderoso e renascido,
Sentimento crescente e acrescido!

Voaremos como águias renascidas,
E em nós uma vida, serão vidas!
Quero seguir-te por onde vais,
Ir contigo, por dias nunca iguais!

É a tua fraqueza que o faz acontecer…
És para mim, fruto intenso, apetecido
Só nos teus braços, consigo adormecer,
Ronronar como um vulcão adormecido!
 (veio daqui)


 

In...definição


A ciência materialista não tem as respostas todas. Esgotou-se ao encontrar o bosão de Higgs e ao confirmar todo o modelo standard. A ciência não progride quando tudo encaixa, precisa de desafios para avançar. A ciência nunca conseguirá definir o amor... Mas não faz mal, o amor nunca precisou de definição para existir.


Em ciência, dar nomes não é saber
É mais exactidão, talvez rigor
Como andar não é viver
E desejar, não é amor

Definir, não basta para clarificar
É preciso acima de tudo pensar
Reflectir, de modo a progredir
Modestamente deixar-se ir

Ter disposição de aprender
Matematicamente equacionar
Observar é não apenas ver
Construir hipótese, argumentar

Mas que importa saber?
E o amor não se define
Não importa o que amofine
Nunca a ti vou ter...


 

A Caminho do Paraíso

Oh sim! Andar na vida, é subir ao mastro na tempestade e gritar em desafio!
Sejamos loucos, que apenas se morre uma vez! Chegar ao novo mundo, ou à terra prometida nunca foi fácil! Se queres conquistar o Paraíso o Universo tentará derrubar-te! Creio que ele acha que nunca o merecemos. Mas olha, se fores, não vás sózinho!
Chama, Encosta, Abraça, Amarra-te a mim! Para chegarmos os dois!


Quando tudo o que te enche for a solidão
E pensares que não vives em nenhum coração
Quando olhares e o teu olhar for vazio
E sentires que se escoa  a tua vida feito  um rio
Chama por mim! Chama por mim!

Quando andares aos tropeções
Na ressaca das passadas paixões
Pensando que não há lugar para ir
E que é agora que te vais deixar cair
Encosta-te a mim, encosta-te a mim!

Quando a vida te parecer dura
Sem afecto nem ternura
Todos os lugares feitos de nada
Companhia que te enfada
Abraça-te a mim! Abraça-te a mim!

E quando o horizonte ficar escuro
E já não te sentires seguro
Para que os vendavais da vida
Não te levem de vencida
Amarra-te a mim! Amarra-te a mim!