NADA



Nada como uma catástrofe para parares para olhar dentro de ti, o mais fundo que sejas capaz. E olhas, sem encontrar horizonte, sem te deteres em nada. À imagem do que é tudo, em fumo e espelhos, o grande mágico faz com que desapareças. Desaparece tudo, até tu, que nunca foste outra coisa se não nada...



Ah nada, mas mesmo nada,
É a vida em retrospetiva.
Já tudo me enfada,
Mesmo que viva.
Deixem que o rochedo,
Se transforme em pó!
Que o meu medo,
Seja eu, apenas só.
Estou ficando vazio…
Água que se esgota no meu rio,
Nuvem pesada que não chove.
O que é que me move?
Um eco, um oco, uma loucura;
Que arco-íris será a minha cura?
Tu que não tens dores,
Quais são as tuas cores?
E estou endoidecendo,
Me perdendo,
Em lugar nenhum!
Sou apenas um,
Solitário perfeito!
De areia feito,
Duna, deserto seco,
Onde não peco!
Que fim é este?
Será a peste?
O que nos tragará,
No fim do mundo?

Ah dantes ainda tinha os sonhos,
Os felizes e os medonhos!
Agora não tenho nada,
Esperança abandonada.
Ecos, rumores,
Coisas vagas, amores…
E sou uma folha vadiando,
No meio do ar rodopiando,
Até cair!
E é ir,
Até ao fim,
Que resta para mim?
Só isso, esse nada sempre vazio,
Tão vazio, como um espaço sem ar!
Um tecido sem fio,
Que só serve para desnudar!
Deixa-me aqui na margem!
Nenhuma viagem,
Nenhum caminho para seguir,
Nem prisão de onde fugir!
Que sem saber,
A vida é para morrer.
Desaparecer…
E hei-de ir,
Sem ter chegado.
Apagado!
Nesse tempo que é sem fim,
Há-de apanhar-te a ti, e a mim.
Não faz sentido, ser tão nada assim.
Nem uma promessa, um fogacho,
Lugar onde não me acho,
Onde apago.
Amargo,
Até me esgotar,
Nada restar!
Onde toda a memória doce,
Se fosse…
Ficasse só este absinto,
E só a dor fosse o que sinto.
Macabra tortura,
De doer com a lembrança!
Uma coisa que dura,
E em não matando, é matança!
Não consigo estar mais macabro.
Esta porta fechada abro,
E é vazio!
Tudo tão vazio,
Sem sentido.
Sorrio!
Doentio.
Ido,
Sem saudade,
Que tudo é vaidade!