Grunhido



Meu amigo, não fiques triste. Não vale mesmo a pena. A morte traz a paz. Uma paz eterna, que mesmo coisa sem ter fim, ou o lugar onde todos ficamos reduzidos à importância que temos, Não é muito grande essa importância, num Universo tão vasto. Demasiado vasto, tão eterno, para a nossa pequenez. É só a nossa cabeça que nos quer fazer sentir importantes, para nos manter de pé... Mas a gravidade desta machina mundi obriga-nos sempre a cair...sempre a cair...


Agora que em mim,
A fonte da seiva secou;
A árvore chega ao fim,
E a ave negra pousou...

Quem espera sentado,
Dessa margem, desse lado,
Por onde o rio ainda corre;
Contrário a este, onde já morre.

É serena e calma a margem,
Onde galhos findam viagem,
E peixes buscam abrigo.
Donde aceno um adeus amigo!

Já ao dia acho-o escuro;
E os tímpanos, boa espessura!
Não consigo saltar o muro;
Desta doença não há cura!

Mas faz-me um último favor,
Dá-me abraço, suave calor,
Em silêncio; no término da viagem;
A este teu velho conhecido!
porque a linguagem,
ainda é só grunhido!


Metal Português

 

Nada Mais Resta

Sempre chega um momento em que pensamos no que a vida foi, ou ainda é. Dos amores que nos tomaram e daqueles que fomos forçados a deixar, nesta interminável caminhada feita de chegadas e partidas, como antigamente os navios. E chega o dia em que o barco que somos, já não navega mais, submerge. Talvez seja o peso de uma vida cheia...

Lembro-me do cheiro a pinheiro verde,
Do tojo a roçar-me nas pernas.
E do tempo que se escoa e perde,
Ao lembrar as memórias mais ternas.

Sei que me amaste com força nobre!
Fizeste de mim rico e tiveste de ir,
De repente fui apenas só e pobre;
Cansado veleiro, sem vontade de partir!

Nada mais resta. Espero sereno a morte;
nada presta, breve momento. E é tormento;
nem no amor, nem no jogo, tenho sorte.

E sou aquilo em que aos poucos me desfaço.
Paixão que foi contigo; num último abraço.
Ganhei raízes, andar já não consigo...