PARTIDA






Não precisa de morrer ninguém que amamos, para sentir a mesma dor. Basta que a distância seja grande, que não possas abraçá-la mais, que nunca mais sintas o seu perfume, o sabor dos seus lábios... Quando todos os bons momentos estão no passado, e por muito que ambos queiram, não pode ser. Dói. Amar dói...



Partida

Oh a alegria da chegada!
O prazer da descoberta
Abraçar a pessoa amada
Janela aberta
Para o jardim delicioso
Onde tudo é maravilhoso
Mas nesse instante
Não nos passa pela mente
Que de repente
Tudo pode mudar
Ficar diferente

O peito outrora cheio
A bater descompassado
Possa agora esvaziado
Meter o medo de permeio
Os teus braços fortes
As mãos que agarram
Encontram outras sortes
Marinheiros que desamarram
E se dantes era tudo alegria
A verdadeira essência da vida
Chega o negro dia
Em que tudo é partida...



 

Espuma branca

A vida é volátil como a espuma das ondas que cansada vai lamber o areal. Sopra o vento e vai embora. Mas as ondas, vão e vêm. É cíclico como nascer e morrer. E o que sobra no intervalo, o que realmente faz valer a pena, o que nos salva e nos redime, é o amor... Mas é sempre a doer, sempre! (Se é um amor que não dói, talvez não valha a pena, talvez não seja sequer amor!)


Preciso de uma praia onde deixar pegadas;
Onde abrir os braços como mastros ao vento;
Oferecer a face à chuva e às trovoadas;
Sem um suspiro, nenhum lamento.
Depois ser escolho, jogado na areia;
Uma vida inteira, que apenas parece meia.
E nada importa, mundo novo além,
Que termine o mal todo, reste só o bem!
E se não houver nada que reste,
O sobrar que não moleste.
Olhos inundados de mar!
Na vida a naufragar,
Tende piedade e deixai-me fugir;
Peixe encalhado em qualquer lado.
Desejo intenso de pra ti ir.
Espuma branca que te vem seguir;
A ti aportar, a ti abraçar, a ti amar!

 

NÃO BASTA O AMOR

Quem te abre o peito como quem abre uma ostra, tira a pérola de lá e no fim, quando não correspondes mais ao que de ti esperava ou queria, diz que estás vazio. E tem razão. Estás mesmo e mais...Muito mais... O jardim está vazio. É inverno e chove, Oh se chove! As nuvens ficam, cinzentas e pesadas, descarregando. Descarrega tudo, para depois ficares mais leve e vogar por aí, como folha no vento.


Não basta o amor
Não basta nascer a flor
Para se ter um jardim
É o mesmo para mim
Quando habita o mal entendido
Que faz do amor vagabundo perdido
Não sei o porquê desta fatalidade
Que baralha tudo até doer
Perdida oportunidade
De o fazer crescer

Desajeitado
Adolescente que ficou senil
Ser amado
Desejo varonil
Semente que não encontra campo
Idiota, que só merece tampo

Donde vem a redenção
Desta contra-natura paixão?
Talvez devas esquecer, partir
Uma réstia de nobreza
Nesse sacrifício de desistir
Enorme grandeza
Trazer assim a paz
Voto de pobreza
Mas a prece em meus lábios pede:
-- Não vás! Não vás...

 

Espinhos

A fonte de todas as dores, é o amor! Por amor dizem as Escrituras, nosso pai Adão, escolheu morrer junto com Eva, do que a perspectiva de viver sem ela! E eis que em Adão morremos todos! Acho que Deus ficou ciumento de que o seu filho preferisse a criação ao Criador! Nem se apercebeu, que Adão o honrava ao amar assim o trabalho das suas mãos. Mas que às vezes dói...


Vesti-me de espinhos de roseira
Para ver se te esquecia
De alguma maneira
Lembrar-te todo o dia
Era coisa que eu não queria
Mas o pensamento é recorrente
Mesmo que arduamente tente
É para ti que corre e voa
Mesmo que ande à toa
É pássaro livre e louco
Bater as asas, para ir ter contigo
Acha o esforço pouco
(Chama-lhe um figo!)
Mas em mim só fica a dor
E mesmo que como abelha voe assim
De jardim em jardim, de flor em flor
A dor acaba toda pra mim
Roseira que me aperta
Coração em fonte aberta
Que para ti se escoa
Anjo louco que para ti voa!