Abraço


Já sentiste essa necessidade de ser resgatado por uns braços que apertam o teu corpo como se tivesse medo que te dissipes e possas desaparecer dali?  E quantas vezes abraçaste alguém com a força de um naufrágo, porque estavas realmente a afogar-te? Ou das vezes em que um abraço é sinal de que estás em casa, na tua casa... Preciso...Não desistas...



Dás-me o lado áspero de ti
Para me desassossegar
Não sei depois porque fico aqui
Como se fosse natural
Sentir-me a naufragar
Este antigo mal
De te sentir
A me abandonar
Eu a ficar, tu a ir...
Não sei porquê assim
Não faz sentido
Se te sou tão querido
E eu quero-te sim
Para mim

Mas tu trazes o mar
No teu olhar
E ao invés de navegar
Sinto-me a mais
Lançado ao mar
Porque tu vais
Veleiro alto ao sabor do vento
Velas enfunadas
Vou perdendo o alento
Nestes pequenos nadas
Naufrago nas ondas altas
Afogo nas pequenas faltas
E onda enorme, o imenso mar
Para onde parti, e donde não sei voltar
Não sei bem o que fazer, ou o que faço
Mas sei ficava feliz, com um abraço!

 

Saudade


Já sentiram essa dor doce de não terem perto quem está mais perto, juntinho ao coração? Uma dor que não nos larga, porque não a queremos largar? A dor e a alegria misturadas numa alma só, a que o génio lusitano concentrou numa palavra: saudade!
E há tantas formas de saudade... Esta é do coração.



Há um desassossego na alma branda.
Coisa como o silêncio após a tempestade.
Este caminho inquieto em que se anda,
Dor doce a que chamam de saudade!

As flores viram-se na tua direcção,
E os regatos murmuram o teu nome.
É um Sol que chamam de paixão,
Fogo ardendo que não se some!

Podem prometer-te a lua,
Tudo o que quiseres ser teu.
Sonho-te na minha cama nua,
Ser anjo, para que fiques no céu!

E se ouvires chorar as pedras do chão,
Olha à tua volta com atenção.
Porque não são as pedras não,
É por ti, a chorar, meu coração!




 

Coração partido...


Acontece... Talvez fosse o excesso de velocidade da paixão louca, em contra-mão! Talvez esse desejo incendiário nunca concretizado, não sei... O cansaço? Uma impaciência feita de frustração, que leva a partir? E ficas assim vazio no cais, sem saber para onde vais a seguir, porque simplesmente não querias ir. E tudo te diz que chegou ao fim...ou não. Talvez nem devesse ter começado, se era para acabar assim. Ou então não é nada, apenas um pesadelo que desaparece ao acordar! Certo mesmo, é que dói essa sensação de coração partido...




O meu coração, ele partiu
Antes de eu me aperceber
Batendo louco, contigo fugiu
Mas não me deixou morrer

Nos teus olhos, foi levado
Nesse azul profundo e limpo
Extasiado, qual pássaro alado
Rumo a um qualquer Olimpo

Que pássaro sou eu,
para voar no teu céu?
A tua mão sacode
Quem me acode?

Estendo as minhas asas, negras essas,
Pensei ser anjo caído, cheio de promessas
Mas pelo meu grasnar, sou apenas corvo
Um tipo só, a mais entre o povo

E tu no teu charme singular
És promessa enorme que não mereço
Sou ave das bruxas, a afugentar
Na minha sina, pereço

Se és mais feliz sem mim,
Então vai, parte assim...
Foi bom ter-te conhecido,
Mesmo que acabe de coração partido!