Mágoa


Diz-se que o tempo tudo cura, mas o tempo nunca curou coisa nenhuma. O que o tempo faz é atenuar a dor. Se conseguirmos esquecer, tanto melhor; mas é sempre difícil esquecer e a mágoa torna-se lago e cresce, Seria contudo um disparate que não se deixasse doer. A dor faz também parte do enamoramento e realmente existe como contra-tempo fazendo ressaltar o que de bom se foi tendo...



Magoa-me a tua ausência.
Este forçado exílio a que me remete.
Não há ciência,
Clarividência,
Que explique este sofrimento;
A que me submete,
O teu desprezo, a todo momento!

Quem dera que eu fosse de pedra!
Raiva que em mim medra,
Dar-me todo por inteiro,
E acabar a penar nesta solidão.
Querer a tua mão,
E ficar vazio sem nada!

Quimera dourada,
Que nunca chega a acontecer!
Espaço entre viver e morrer,
Que apenas passa!
Visão baça,
Entorpecente,
Desta mágoa que me deixa doente!



 

Ela é livre!


Todo o animal preso definha, até o cão fiel que sempre viveu preso a uma corrente ou fechado em algum quintal pequeno, ou num terraço. Ou um homem a uma esperança de amor... Ansiamos a liberdade como o vento sobre o oceano ou as águas do rio, correndo sempre, mesmo que as margens o apertem. Mas às vezes a liberdade é maldição...


Ela é livre!
Como as sementes,
Flutuando ao vento.
Cheias de promessas,
Que frutificarão, ou não.

Ela é livre!
Em especial de amores, folhas deixadas cair;
Porque para ela haverá sempre outras paixões!
Não sei se tem raízes, um lugar onde esperar;
O calor do sol, ou o rubor na sua face!
Que as rainhas querem-se frias e sem corar.

Ela é livre!
Na imensidão das possibilidades,
Roubando-me das minhas.
Deixando-me um sabor amargo,
Limpando a boca e dizendo:
-- Não cometi agravo!

Ainda bem que não sou livre como ela...